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Revista NÓS da Arte

ARTE NA ESCOLA PÚBLICA

Como educadores enfrentam o desafio de lecionar Teatro, Dança, Música e

Artes Visuais nas escolas públicas 

por Cássio Lima

Em três de maio de 2016, o Governo Federal determinou a ampliação das linguagens artísticas ao currículo obrigatório do ensino básico brasileiro. O documento incluiu o Teatro, a Dança e a Música no processo de ensino aprendizagem, ao lado das Artes Visuais que é popularmente conhecida como Artes Plásticas, na escola Educação Artística. O prazo de adequação aos novos padrões vence em 2020 conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica - Portal do MEC.  A Revista Nós quer saber a realidade deste processo de implementação até aqui. 

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Dra. Rosimeire Gonçalves dos Santos, coordenadora do Curso de Teatro, da Universidade Federal de Uberlândia - UFU | Foto: Cássio Lima

A coordenadora do Curso de Teatro do Instituto de Artes - da Universidade Federal de Uberlândia, Dra. Rosimeire Gonçalves dos Santos chama atenção para a necessidade de reproduzir a pedagogia da formação universitária nas escolas. “É na Licenciatura que o autor terá os subsídios teóricos e práticos para lidar com a sala de aula e a comunidade em geral, mas na outra ponta, a escola precisa recebê-lo dentro desse perfil de formação, garantido a autonomia da construção da atividade curricular, considerando a linguagem artística em questão”. A criação da cultura pela Arte na escola é um grande desafio, além do conteúdo ser ministrado em média uma vez por semana, em alguns casos, a disciplina divide tempo com matérias tradicionais do currículo, como a matemática e o português. “A inclusão dos quatro currículos é um avanço, porém devemos continuar a nossa "marcação política" sobre editais públicos de contratação de professores, onde algumas linguagens não são atendidas. Outra deficiência é o espaço dado a Arte na estrutura física da escola, que não pode ser restrito há uma sala com cadeiras lineares, principalmente no ensino público”, defende Santos.

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Dr. Andre Luiz Sabino, diretor da  Escola de Educação Básica, da Universidade Federal de Uberlândia - UFU |  Foto: Cássio Lima

Em cidades de porte médio a contratação de professores nas quatro modalidades tem ocorrido de maneira lenta, alguns diretores demonstram preocupação em atender os novos padrões em pouco menos de 3 anos, já que os concursos públicos não contemplam todas as linguagens. A Escola de Educação Básica (ESEBA) ligada à Universidade Federal de Uberlândia é a única com as quatro licenciaturas em atividade no Município, com uma população superior a 700 mil habitantes, segundo o último censo do IBGE. “Somos um colégio de aplicação que avalia constantemente o currículo básico escolar, onde a Arte se torna uma possibilidade com vários nós, tanto na relação com outras disciplinas, como em proporcionar um ambiente de aprendizagem cada vez mais amplo, explorando a estrutura escolar e a relação com a comunidade, que não inclui apenas os pais”, afirma o professor Dr. Andre Luiz Sabino, diretor da ESEBA. A escola promove todos os anos uma Semana de Artes, onde os alunos apresentam suas vivências aos colegas, pais e convidados, além de utilizarem um palco destinado a arte, as paredes da escola são tomadas por expressões artísticas. 

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Os professores Mariza Barbosa, Daniel Santos Costa, Maria Rúbia Colli, Getúlio Góis de Araújo e Lucielle Farias Arantes desenvolvem o conteúdo de Artes na ESEBA, para eles o grande desafio é aplicar as disciplinas tendo a “Arte como processo”, não puramente uma busca por resultados práticos. “O processo de criação depende se o aluno é conhecedor do que está sendo proposto, se houve de fato uma experimentação e uma contextualização teórica desse caminho criativo. Assim, criar espaços de visibilidades que expressam o processo de criação é de suma importância, devido a isso todos anos a ESEBA realiza a Semana de Artes”, afirma Mariza Barbosa, responsável pela construção pedagógica das quatro linguagens.
Mariza Barbosa é professora de Artes Visuais e Daniel Santos Costa de Dança, na ESEBA
| Foto: Cássio Lima
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Também na ESEBA, Maria Rúbia Colli é professora de Artes Visuais e Getúlio Góis de Araújo de Teatro  | Foto: Cássio Lima

Agora uma outra realidade é constatada nas escolas públicas das redes Municipal e Estadual. Possibilitar uma vivência criativa, mesmo com os limites de cada um e levando em consideração a estrutura da escola têm sido um grande impasse no desenvolvimento dos conteúdos. “O aluno precisa estar na condição de artista, ir a frente e se apresentar, receber os aplausos de quem o assiste e ter o seu lugar de expressão”, defende a professora Camila Delfino, que fez licenciatura em Teatro, pela Universidade Federal de Uberlândia.

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Camila Delfino defende o local de fala do artista, onde os alunos devem estar na condição de atores | Foto: Cássio Lima
Em grande parte apenas um professor é o responsável pelo conteúdo artístico nas redes de ensino público, auxiliado por um livro didático e a sala de aula. “O ideal era ter um espaço adaptado semelhante ao que tínhamos na Universidade, saindo desta configuração mesa e cadeira. A escola cobra muito o resultado e se tivesse a estrutura aprenderiam mais, eu sempre procuro levar os alunos para fora da sala, para o pátio ou lugares abertos. Se for ensinar Arte pela educação é desanimador, deve lecionar pela Arte mesmo, como resistência”, diz Camila Delfino. 
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Há 25 anos, Marlise dos Reis Matos atua na educação pública
| Foto: Cássio Lima

O contato com a música e os instrumentos musicais acompanha a vida da diretora Marlise dos Reis Matos desde pequena, a família dela é de artistas e compreende bem o papel das artes no ensino, principalmente, na fase inicial da vida escolar. “Está mais do que comprovada a eficácia do ensino de Artes no desenvolvimento dos alunos, eles compreendem melhor o espaço do outro, aprendem a contracenar, olham diferente para uma poesia e passam a valorizar a escrita. Aqui na E. E. Enéias Vasconcelos tiramos uma aula de português e de matemática para estender o conteúdo de Artes até o nono ano”, explica a diretora. Matos conta com a proatividade do professor para driblar a falta de estrutura na escola. “O professor pode trabalhar as quatro linguagens. A nossa orientação é que os conteúdos sejam divididos por bimestre, para facilitar o entendimento. O ensino é bem flexível, aproveitamos o pátio da escola e as festas do calendário escolar para incentivar as apresentações”, conta. A diretora vê um longo caminho para real implementação das quatro linguagens artísticas, a falta de recurso e vontade política são apontadas como os principais impeditivos. “Se isso acontecer vai ser riquíssimo. Uma das grandes dificuldades é o professor trabalhar uma linguagem fora da sua habilidade. Eu vejo a implementação complicada devido a escassez de recurso e a falta de vontade política para concretizar as coisas, caso contrário será apenas uma Lei que ficará só no papel”, acrescenta. 

 

A determinação do Governo Federal em legitimar as quatro licenciaturas no currículo obrigatório da educação básica é vista de forma positiva pelos profissionais da educação, como sendo uma conquista jurídica importante. Entretanto, estão temerosos quanto ao cumprimento da medida até 2020. Além das universidades brasileiras não conseguirem atender a demanda pela pouca oferta de cursos e de professores licenciados, as redes públicas continuam dando posse ou contratando educadores contemplando todas as disciplinas em único professor. “Hoje estamos vivendo um divórcio muito grande com o Ministério da Educação. As artes é um conceito único, mas na prática ela subdivide bastante. A grande tarefa é consolidar o ensino de artes em si mesmo, preservando cada Licenciatura, pois sabemos que a polivalência não funciona. Além disso temos perdido o ritmo de formação de docentes”, alerta a professora Rosimeire Gonçalves dos Santos, do Curso de Teatro da UFU. Os investimentos em educação também sofreram uma grave redução nos dois últimos anos, para cumprir metas fiscais do Governo Federal, congelando os investimentos por 20 anos. A tendência é rever a implementação das licenciaturas em 2020, já que as metas não vêm sendo cumpridas pelo Ministério da Educação.

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Micellyna Lima pretende formar em Licenciatura em Artes Visuais no final de 2018 | Foto: Arquivo Pessoal
Mesmo o quadro demonstrando incertezas sobre o futuro, sempre encontraremos alunos interessados em licenciatura, Micellyna Lima é um deles. A motivação veio do encantamento por crianças e depois pelo modo como os pequenos aprendem e percebem o mundo. “Trabalhar Arte com eles permitiu despertar e acompanhar o vasto universo da imaginação que eles têm, e que vêm à tona cheia de espontaneidade. Outro motivo pela escolha da licenciatura, é porque acredito no potencial da Arte como um caminho para experiências sensíveis, críticas e reflexivas”, explica Lima, que está no 9º período de Artes Visuais na UFU. Adepta da “brincadeira” como forma de despertar a sensibilidade do fazer artístico, a discente vê a licenciatura como uma ferramenta de transformação social, que luta diariamente contra o desânimo que bate a porta dos educadores. “A licenciatura é aquela chama acesa que sempre brilhará em uma nação, apontando um futuro melhor, e uma educação de mais qualidade. O ponto negativo é que poucos enxergam essa “chama que brilha” como um bem precioso, e isso não é de agora. Temo que essa falta de ânimo diminua o interesse pela licenciatura”, finaliza. 

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