O olhar preocupado de Collin (sob condicional) é a convicção de que o racismo insiste em permanecer. Em "Ponto Cego" quem dirige a lente das câmeras é o olho dos protagonistas - Collin enxerga as diferenças entre ele e o melhor amigo Miles (Rafael Casal). No filme, tal realidade é retratada na cena em que um homem negro é executado, ao lidar com o trauma pessoal, Collins se torna o espelho da sociedade racista. O medo de não mais se livrar da condicional encontra-se com o pavor de fazer parte de uma estatística que não admite justiça. O roteiro de Diggs e Casal é uma clara demostração desta realidade, mesmo com um visual colorido e "leve", exibindo a beleza do bairro e a união entre os moradores.

O "peso" da película está no tema, na "mão invisível" da intolerância social. Neste recorte, o porte de armas e drogas entra no enredo, mas não ocupa um espaço tão considerável quanto à identidade: o branco se porta como delinquente negro, esse tem medo de ser negro - e se tal abordagem já é racista, fica mais potencializada quando contada por dois amigos. Miles sintetiza uma pequena parcela da sociedade americana mais sensível às igualdades entre raças, entretanto, na trama está estrategicamente colocado no lado oposto do politicamente correto, a delinquência.

Na medida em que as cenas são apresentadas, Oakland vai mudando de sentidos, os personagens também ficam confusos quanto a si mesmos, se perdem como indivíduos - um retrato das sociedades contemporâneas, onde o sujeito acaba diluído num coletivo cada vez mais individualizado. O fato de portar uma arma reflete tranquilidade para um e desespero para outro. O filme nos aproxima de Collin e Miles através da desigualdade e truculência policial. Além de "excludente", esse tema relata a vida de inúmeros personagens norte americano.